O projeto Vidas Áridas surgiu da iniciativa dos jornalistas Geraldo
Humberto e Délio Pinheiro, funcionários da afiliada mineira da Rede
Globo nas regiões norte, noroeste, central e Vale do Jequitinhonha,
a InterTV Grande Minas. O projeto começou em 2012 quando os
jornalistas realizaram uma viagem ao extremo norte do estado para
registrar aquela que foi, até agora, a maior seca que o estado já
enfrentou em cerca de um século. O objetivo era registrar em
fotografias, e também em reportagem para a emissora, este momento
crítico. De volta da viagem eles lançaram em 2013 a exposição
“Fome de água no sertão”, que deu início ao projeto.
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Morador da zona rural de Espinosa |
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Antes de tudo um forte |
O
nome Vidas Áridas é uma homenagem a famosa obra de Graciliano
Ramos, Vidas Secas. Ainda em 2012 o projeto ganhou contornos que nem
os próprios criadores supunham, já que sob a bandeira do Vidas
Áridas vieram se abrigar parceiros que enxergaram no projeto uma
oportunidade para a sociedade exprimir suas opiniões acerca de
assuntos tão importantes, como a correta utilização dos recursos
hídricos.
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Logomarca do Instituto |
Neste
mesmo ano foram realizadas as chamadas “Caravanas Vidas Áridas”,
nas cidades de Serranópolis de Minas, Pai Pedro e Taiobeiras.
Oportunidades em que foram discutidos, em audiências públicas,
assuntos relevantes de cada lugar. Neste mesmo ano os idealizadores
passaram a ministrar palestras em empresas e escolas, sempre com o
objetivo de despertar a consciência ambiental das pessoas.
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Vidas Áridas em Pai Pedro |
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Vidas Áridas em Serranópolis |
Em
2013 o Vidas Áridas passou a participar de grandes discussões
regionais, como a defesa da retomada das obras do reservatório de
Berizal, no Alto Rio Pardo. Neste ano o Vidas Áridas passou a contar
com dezenas de colaboradores eventuais e um permanente, o
ambientalista Sóter Magno, que preside a ong OVIVE, Organização
Vida Verde, importante parceira nesta caminhada.
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Quando a objetividade do jornalismo chega ao fim |
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Uma grande bandeira: A retomada das obras de Berizal |
Neste ano o projeto
fez várias viagens a Belo Horizonte, Brasília e a Fortaleza, no
Ceará, sempre em defesa dos interesses regionais no que diz respeito
ao aproveitamento consciente da água, matéria prima tão necessária
e cada vez mais escassa.
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Entrevista com o governador de Minas |
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Viagem a Fortaleza pelo Vidas Áridas |
Neste
mesmo ano foi feita a primeira Expedição Vidas Áridas. Durante uma
semana os jornalistas, acompanhados de diversos parceiros,
percorreram novamente o extremo norte do estado e o Alto Rio Pardo
para uma série de reportagens para a InterTV e também para captar
imagens para um nova exposição. O resultado foi surpreendente. A
exposição “Quem tem sede não pode esperar” revelou regiões e
pessoas devastadas pelo clima. O Vidas Áridas ganhou reconhecimento
e ainda mais visibilidade. Neste ano foram feitas dezenas de
palestras e o movimento passou a fazer, em definitivo, parte da vida
de milhares de pessoas.
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Partida da primeira expedição |
Em
2014 o Vidas Áridas se lançou em um projeto ainda mais ambicioso.
Foi feita novamente uma grande expedição, e o foco foi o rio São
Francisco. Durante duas semanas aventureiros percorreram o rio da
represa de Três Marias ao estado da Bahia, retratando as
dificuldades de navegação, o sumiço dos peixes e o desalento dos
barranqueiros.
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Foto linda no município de Catuti |
O
ano não poderia ser mais apropriado para uma expedição como essa,
pois foi quando ficaram escancarados os problemas gigantescos do rio.
Uma das nascentes principais do Velho Chico, em São Roque de Minas,
secou e nunca o lago de Três Marias ficou tão vazio. A capacidade
acima do mínimo ficou inferior a três por cento. Neste quadro
sombrio o trabalho ganhou repercussão nacional. Uma série de
reportagens foi exibida na InterTV e também na Globo Minas e os
olhos da nação se voltaram para a região.
Os
idealizadores contam que, a partir deste momento, ficou impossível
aceitar todos os convites para palestras e o envolvimento em causas
diversas. Simplesmente os problemas eram imensuráveis e não havia
condições técnicas e humanas para dar conta da demanda.
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Singrando o Velho Chico |
Mas
longe de ser um problema, isso foi visto como uma oportunidade para
posicionar o Vidas Áridas como a principal voz em defesa dos
recursos hídricos, sobretudo do São Francisco, no norte de Minas.
Um projeto que não tem viés político partidário e que não está
a serviço de nenhum partido ou político. O projeto, criado por dois
jornalistas, agora se fazia representar por milhares de pessoas que
passaram a bater no peito e dizer, com orgulho: “Eu também sou
Vidas Áridas”.
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Antonio Jackson e Délio Pinheiro, membros do Vidas Áridas |
Em
2015 foi lançada a terceira exposição fotográfica intitulada
“Salvem-me para que eu possa salvar vocês”. O grito de socorro
do São Francisco ficou, como as outras duas mostras, em exposição
no principal centro de compras de Montes Claros e passou por diversas
cidades, como Pirapora, Japonvar, Matias Cardoso e também em
Brasília, Distrito Federal.
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Em Pirapora |
Neste
momento os idealizadores já computavam dezenas e dezenas de
palestras proferidas e muitas ações, mas ainda havia o desejo de
tornar o Vidas Áridas ainda mais atuante. A ideia é que o movimento
pudesse não apenas mobilizar, mas também realizar ações. Foi
assim que surgiu o projeto “Nascente Viva”, em parceria com a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Montes Claros.
No
Dia Mundial da Água, o Vidas Áridas, e seus parceiros, cercaram a
nascente do córrego Gameleiras em Montes Claros. Foi o projeto
piloto de uma ação de longo prazo que pretende cercar todas as
nascentes do município. A ideia principal é que essa ação possa
inspirar outras cidades e pessoas a fazerem o mesmo com seus
mananciais. As nascentes da região do Córrego Matias serão as
próximas a serem cercadas pelo projeto, que se fortaleceu e hoje
conta com dezenas de apoiadores diretos, entre eles o Exército
Brasileiro.
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Um passo em relação ao futuro |
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Um gesto, um exemplo |
Outra
ação desenvolvida em 2015 foi a limpeza de uma área do rio
Vieiras, afluente do Verde Grande, no município de Montes Claros.
Com parceiros, entre eles a COPASA e a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, foram retiradas mais de trinta toneladas de lixo da calha
do pequeno afluente, que faz parte da bacia hidrográfica do São
Francisco. E outras ações como essas estão previstas para os
próximos meses.
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O diagnóstico |
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A ação humana |
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A limpeza |
Em
julho de 2015, o Vidas Áridas se juntou a um grande parceiro, o
projeto Manuelzão, criado pelo doutor em educação, médico e
ambientalista Apolo Heringer. Ele e outros parceiros se juntaram em
Matias Cardoso para a criação de um documento que pretende nortear
as ações em prol da revitalização imediata do São Francisco.
A
Missiva, intitulada “Carta de Morrinhos”, numa referência ao
antigo nome da primeira freguesia do estado de Minas Gerais, deve
chegar às mãos das principais autoridades do país. A expectativa é
que dela surjam ações emergenciais em defesa do rio. O professor da
Universidade Federal de Minas Gerais, Flávio Pimenta, resumiu em
apenas três palavras a postura do Vidas Áridas: “Ação, ação e
ação!”.
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Geraldo Humberto e Apolo Heringer |
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Reunião no banco de areia |
Também
em julho os integrantes do projeto, Geraldo Humberto, Délio Pinheiro
e Sóter Magno, foram convidados para falar na Comissão Externa da
Transposição do São Francisco no Congresso Nacional, em Brasília.
Durante quase três horas os ambientalistas bateram fortemente na
tecla da importância da revitalização do rio, sob pena de não ter
água suficiente para os irmãos nordestinos a serem beneficiados
pelas obras da transposição, que já estariam 85% finalizadas,
conforme foi informado na audiência. Já foi dito que “um anêmico
não deveria doar sangue”, e é essa a impressão que temos em
relação ao Rio da Integração Nacional. A audiência contou com a
participação de dezenas de deputados e de um senador de Sergipe,
Eduardo Amorim.
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Fala de Sóter Magno em Brasília |
A
nova exposição do Vidas Áridas foi montada em uma das galerias da
Câmara dos Deputados e centenas de pessoas, entre elas muitos
deputados, viram as imagens do ocaso que vive o nosso rio mais
importante.
Para
2015 ainda estão previstas várias atividades a serem desenvolvidas
pelo Vidas Áridas. A exposição completa de fotografias passará
por Januária e Três Marias, e em outras cidades a serem confirmadas
nos próximos meses.
A
entrega da “Carta de Morrinhos” deverá ser feita, entre outros
lugares, em Brasília. Autoridades estaduais e nacionais com
representação na bacia do São Francisco receberão o documento, e
se comprometerão a defendê-lo e a implantá-lo.
O
projeto ainda vai realizar uma nova expedição pelo Velho Chico. O
foco desta vez serão os afluentes do São Francisco, tão castigados
pela seca que já dura pelo menos cinco anos na região. Os rios
Paracatu, Velhas, Jequitaí e Verde Grande são alguns que devem
receber os expedicionários. A previsão é que a nova “aventura da
cidadania” aconteça em outubro ou novembro.
Em
novembro, entre os dias cinco e sete, em Montes Claros, o Vidas
Áridas realiza um Congresso Internacional com a participação de
milhares de alunos e professores, de instituições nacionais e
estrangeiras. Em foco as discussões e ações a serem implementadas
nos próximos anos.
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Grande ação para pensar o Brasil |
Outros
dois grandes projetos a serem desenvolvidos nos próximos meses é a
publicação de dois livros. Um deles trará as fotografias e os
bastidores das duas primeiras exposições fotográficas feitas pelo
projeto. E outro, obviamente, será específico sobre a “Expedição
Velho Chico”.
E
ainda haverá as palestras em escolas públicas, quando são levadas
algumas fotografias da exposição e exibido o documentário da
expedição pelo Velho Chico. Cidades como Salinas e Montalvânia já
contataram o projeto, que também conta com dezenas de convites de
escolas públicas, a serem atendidos nos próximos meses. Os
idealizadores fazem questão de salientar que não há nenhum tipo de
custo quando as palestras são feitas em locais como escolas
públicas, igrejas, associações de moradores e em outros lugares
onde não há fins lucrativos, como é a própria essência do Vidas
Áridas.
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Palestra no Colégio Unimax |
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Palestra em escola municipal |
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Palestra no Parque Municipal |
Depois
de passados quase quatro anos desde o início desta história,
pode-se dizer que nem os idealizadores do projeto imaginavam que o
Vidas Áridas ganharia tanta repercussão e relevância em tão pouco
tempo. Mas isso não aconteceu por acaso. Certamente o apoio da
InterTV Grande Minas é preponderante para o êxito do projeto, que
se estrutura para se tornar um instituto formalizado, com vistas a
potencializar ainda mais as ações já desempenhadas até aqui. “O
Vidas Áridas é hoje um braço social da emissora, e para nós é
uma honra contar com o apoio da empresa onde trabalhamos”,
registrou Geraldo Humberto.
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Antonio Jackson é entrevistado no MGTV |
Outro
motivo para o sucesso do Vidas Áridas é a relevância dos assuntos
abordados pelo projeto e a abnegação dos que fazem parte da linha
de frente, entre os quais se destacam ambientalistas, professores e
acadêmicos, que podem se vangloriar de estar fazendo sua parte
diante do quadro desolador criado pelo próprio homem. E se cada vez
mais outras pessoas dedicarem seu tempo e seu esforço, e isso
certamente inclui os políticos, poderemos minimizar os efeitos da
ação deletéria do próprio ser humano em nosso planeta. E esse o
chamado que o Vidas Áridas faz.Você
aceita fazer parte da geração que pode ter começado a salvar a
Terra? Se sim, já sabe o que fazer: Ação, ação e ação!
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Délio Pinheiro e Flávio Pimenta |